31.10.03



VOILÁ

E da chuva irrompe a etérea leveza: o júbilo refeito e dançante.

21.10.03



ESCREVERÁ

Arruma a saia e diz o que ainda não dissera toda a tarde.



DECRETO MAS POUCO

Pára o automóvel azul claro no semáforo que logo ali se incendeia: o rubor. Mais à frente, interstício achocolatado e cigarro abotoam-se. Envolve toda esta dificuldade um tempo que se faz caído. Na luminosidade. No cantinho. Um must.

10.10.03



ENTENDIMENTO

à menina em paris

Podia dizer que me lembro bem dos beijos que nunca demos. Mas não, vou antes falar-te do entendimento, conceito tão do agrado dum grego cujo nome me não ocorre. O entendimento é bom. Gosta-se. Há pouco pensei o seguinte: moí­do mas mais feliz! A moagem é um processo secular. Envolve todas as lágrimas que juntarmos e todos os saberes que juntarmos e todos os beijos que nunca dermos, e depois, como que por milagre, olha-se mais uns segundos apenas para o corpo que nos está defronte e apetece-nos de imediato um abraço que traga um aperto nos olhos bem abertos mas fehados e solenes.

O café está com poucas pessoas. Fala-se sobre assuntos já ocorridos e sobre assuntos ainda não ocorridos. Sinto a falta de qualquer coisa. Olho para o meu lado esquerdo e vejo-te e vejo que estás linda, não me surpreende a surpresa que me causas sempre e depois pronto embarco rumo à  cidade dos edifí­cios que ornamentam os cantinhos da minha memória desde que me conheço e então inspiro e percebo que sim, é isto.

4.10.03



JOHNNY MEETS COMMY

Johnny não é Jonhy. E o entardecer às vezes esgota a pinta e pisca o olho mas não se repara. Quando se repara não se pega num cigarro nem se arrisca olhar para o lado. Em Paris as canetas mais gastas do Johnny encontram-se com os devaneios do amigo fictí­cio do meu irmão mais novo, o Comi, ou será que sempre foi Commy? Uma maçã amarela mais o Solnado num fim de tarde à  beira-mar. Falam sobre o azul.