28.7.04



um e meio ou menos (porque sim)

como se os dias de amor tivessem sido curtos
demasiado curtos os dias de amor como se
brócolos salteados em azeite e alho banidos
tivessem sido demasiado curtos os dias

um primeiro ciclo que se fecha nervoso miudinho
pela perna acima, um segundo que um terceiro
despacha um quartinho de vinho que isso passa por ali
e depois vira à esquerda

um pouco mais e nem sempre do mesmo, como se
detido como se atado e contudo feito como se faz
aos brócolos salteados ao arrozinho e tudo isso

um mês e meio disto e daquilo dá desta e daquela
agora é que me não safo ou me passo ou me brinco
de tanto e então canto como se os dias de amor
tivessem sido demasiado curtos os dias

23.7.04



até sempre!

beberei aos teus verdes anos,
mestre do lamento possuído,
senhor guitarra,
senhor música.



maré vaza

ao meio-dia o gin tónico pede mar

22.7.04



procedimento zero vírgula um

não esquecer de cair



oito vezes sete?

sondo tardiamente o torpe torpor instalado
e concluo-me vertigem

15.7.04



meu amor não é tarde

meu amor não é tarde nunca para te dizer que as ruas
estão falecidas e as pessoas recolhidas do vento que sopra
das folhas caídas que assobiam músicas distantes
e frias e que eu não tenho sono não consigo

os regressos a casa fazem-se pelos caminhos dos passos
que ficaram por dar
engendra-se demoradamente um súbito recanto ao luar
onde duas pessoas se olham e beijam

são as noites que me recordam as tardes
que julgávamos sem fim as manhãs em que nos deitávamos
e nos deixávamos assim ficar um outro de nós

13.7.04



voo vezes dois



há homens e há mulheres
que são pássaros

e é vê-los agitando as asas do desejo
e do despojo,

traçando com arrojo os rumos da liberdade