1.12.04



obrigado sampaio

isto não podia continuar assim, de facto. termos no governo quem não saiba governar, bem, isso não é propriamente uma grande novidade; termos em s. bento um indivíduo cuja única mais-valia consiste na sua pretensamente intocável inteligência emocional, um indivíduo cujas competências assentam na ideia que o próprio faz da extrema importância da sua imagem e do timbre da sua voz, um indivíduo que não serve para absolutamente mais nada que não seja apaparicar as publicações mais desinteressantes e com mais falta de nível, isto se descontarmos a sua grande habilidade, reconheça-se, para desbaratar as contas das infelizes instituições que o acolhem/escolhem, um indivíduo destes não merece muito mais que isto: adeus, seu bardamerdas, vai à tua vidinha e não voltes!

25.11.04



distante proxémico

agora que deves ter ido para dentro
eu respiro sôfrego o fundo de ti.

10.11.04



da gaja e do muro



proclamar a suprema inquietude: um amor que ferve
em olhares e em sorrisos e em aproximações
de musgo e de tardes perfeitas

dizer alto e bom som que os muros também se abatem
(obrigado roger waters)

3.11.04



gaja giríssima - 1

escrevo com os olhos postos nos passeios
que percorres e vejo-me passeante.
pego uma ventania que me leve pelos ares
e depois somos dois.

27.10.04



tens um minuto para te deitar ao meu lado

aos infindos abeiramentos subtraio a
distância que o seu corpo me dedica:
sobra a dobra e o vinco no cobertor
banhado de silêncio e desejo.

21.10.04



sim, estou a pensar em ti

quando os dias me chateavam os pés
eu movia-me nas pegajosas tardes da
caligrafia dos nossos beijos dúbios.

supunha-te quase sempre e dizia-te
amo-te salvo erro ou então bastava
olharmo-nos ligeiramente.

hoje despisto-me de cabeça
em todas as tuas luas,
soergo-me e lá vou eu.

27.9.04



monday

o bicho preto dos oito sussurros
foi embora sem que lhe tivesse apetecido
e portanto eu também. os primeiros
minutos deste dia viram-no e depois
já não houve regresso - o bicho preto dos
oito sussurros foi embora. eu agora não sei
dizer coisas bem ditas. não vou dizer coisas.
nada.

22.9.04



que calor

quase dois meses depois volto aqui para dizer que não sei por que volto aqui. et voilá!

28.7.04



um e meio ou menos (porque sim)

como se os dias de amor tivessem sido curtos
demasiado curtos os dias de amor como se
brócolos salteados em azeite e alho banidos
tivessem sido demasiado curtos os dias

um primeiro ciclo que se fecha nervoso miudinho
pela perna acima, um segundo que um terceiro
despacha um quartinho de vinho que isso passa por ali
e depois vira à esquerda

um pouco mais e nem sempre do mesmo, como se
detido como se atado e contudo feito como se faz
aos brócolos salteados ao arrozinho e tudo isso

um mês e meio disto e daquilo dá desta e daquela
agora é que me não safo ou me passo ou me brinco
de tanto e então canto como se os dias de amor
tivessem sido demasiado curtos os dias

23.7.04



até sempre!

beberei aos teus verdes anos,
mestre do lamento possuído,
senhor guitarra,
senhor música.



maré vaza

ao meio-dia o gin tónico pede mar

22.7.04



procedimento zero vírgula um

não esquecer de cair



oito vezes sete?

sondo tardiamente o torpe torpor instalado
e concluo-me vertigem

15.7.04



meu amor não é tarde

meu amor não é tarde nunca para te dizer que as ruas
estão falecidas e as pessoas recolhidas do vento que sopra
das folhas caídas que assobiam músicas distantes
e frias e que eu não tenho sono não consigo

os regressos a casa fazem-se pelos caminhos dos passos
que ficaram por dar
engendra-se demoradamente um súbito recanto ao luar
onde duas pessoas se olham e beijam

são as noites que me recordam as tardes
que julgávamos sem fim as manhãs em que nos deitávamos
e nos deixávamos assim ficar um outro de nós

13.7.04



voo vezes dois



há homens e há mulheres
que são pássaros

e é vê-los agitando as asas do desejo
e do despojo,

traçando com arrojo os rumos da liberdade

25.6.04



POORTUUGAAAL!!

E se de repente lhes oferecessem flores?

23.6.04



europeu na avenida central

do alaranjado festim: ploc ou plim?

21.6.04



Olé!

15.6.04



o sol d'o estrangeiro

disse que nem pensar numa coisa dessas e foi em frente. debaixo do sobreiro arrancou a camisa e as calças. deitou-se. quando acordou estava num quarto pouco iluminado. disse que nem pensar numa coisa dessas e foi embora. no balcão da tasca pediu vinho. bebeu vinho. quando parou disse o que disse mas ninguém o ouviu.

19.5.04



ao trigésimo desnorte far-te-ás ao vento

ao final do dia penso no final dos dias cansados
de mim e de todos, os dias levantados da sombra
que não sabemos determinar, os dias pintados
das cores que não temos nem somos. regresso
pelo caminho de um campo lento, medindo
os passos e as palavras e os pássaros
dizem-me então, muitas vezes, vai
lá embora daqui! fecho os olhos
nas passadeiras que atravesso,
digo que sim, vou, e depois
choro e depois rio e
depois não.

14.5.04



Oh

Oh! Mas que coisa mais linda!

10.5.04



aos causídicos da lindeza

penso pensar dispersivamente ao ralhar substantivos
logo intervalados pelos dados assim lançados pelo sono
das vozes apressadas que buscam querenças
de súplicas entrelaçadas de hortênsias razoavelmente
polidas e desconhecem o imo inimitável das coisas
acontecidas ao ritmo do infecto de remansos desatino.

como quem não quer a coisa adoço o passo
que mais não posso e olho no traço de um vesgo braço
um derradeiro juízo e lembro-me bem, agora sim:
rua da grande liberdade, número plim.

26.4.04



UM PEDREGULHO

da tarde morena em que quiseste voar
para verificar outras andanças
sobrou a etérea quimera de ti:
um silêncio meio picotado e afinal
descrente de correntes de ar
que se respiram pelo ocular lado
do entendimento.

que os lírios do campo frequentem
teus terrenos e te ensinem as
canções de amor!

20.4.04



quero escrever, só quero escrever

como há já muito me não acontecia: tudo arde!
primeiro vem a névoa que logo se adensa
depois a vertigem e um cansaço quase tiro
na nuca que é como quem refere a percepção
absoluta da vida a esvair-se, a puta
da vida a caminhar rasteira e comezinha..

caminhasse eu pelas ruas anoitecidas e inverificáveis,
torcesse eu as tripas e delas fizesse poesia e meia
horita me bastasse para a acidental ligeireza
ser vertical cumprimento de olhos que se olham há já muito
ah, se eu não aparecesse para jantar e logo partisse
e logo me encontrasse e reparasse que isto se dá e dá-se
para logo se não dar...

uns dias mais disto e invento o raio da invisibilidade!

17.4.04



um beijo muito grande para ti, joana. grande, grande. um beijo.



escrito há uma data não especificada de tempo

este bem podia ser um texto dedicado a ti, um conjunto
de palavras que te enaltecessem de tal forma que supusesses agora mesmo e sorrisses agora mesmo e esse sorriso se estendesse no tempo, pairasse à minha frente, imperturbável e apto.

a verdade é que não me lembro dos mecanismos que me facilitam perante os sorrisos ambíguos, que dão mas tiram, que são mas não.

é quando os nossos lábios se cruzam no nosso olhar que logo se potenciam os prolongamentos felizes e ternos e plenos; quando se apercebem, porém, anulam-se derradeiramente.. não conheço coisa mais triste.

14.4.04



E COISA E TAL

nightmares on wax à uma e meia da manhã. nos compassos de pausa musical manifestam-se galinha e cão. problemas com o sono, certamente. os meus são esses e outros. les uns et les outres. e coisa e tal.

voltas a acenar-me assim e desencadeio o processo finalíssimo: volteio derradeiro sobre teus braços de algodão e penas e um frémito e um aperto e um volteio mais que isto passa.

antes e depois disso há tudo o resto, curiosamente. ou não. não importa. o amigo do rex não se cala. julgo que fala com os antepassados. meio lobo, meio parvo.

4.4.04



jantamos?

queria dizer-te tudo nestas manhãs sem sono, amarrar-te as mãos e levar-te pelas ruas sem gente, trincar pão fresco e dizer-te tudo e então descobrir que afinal nunca saíramos da cama. esticar-me em ti, puxando-te lentamente. buscar-me na definitiva perfeição do teu sorriso. queria muito.

17.3.04



CHOVE NA CIDADE DOS PINTORES

chove na cidade dos pintores que enlouquecem pelas ruas brandindo cálices desatinados e oblíquos. é já certo que o mar dista vários quilómetros de terra húmida, asfalto roto. longe da vista, longe do esquecimento: os pintores e os poetas precisam da água salgada a correr no sangue, as algas e os líquenes em dizeres absolutamente estudados, a fugir das memórias, a lembrar a chuva na cidade dos pintores que enlouquecem pelas ruas.

28.2.04



cem anos mais setenta e um anos, tanto

(quando o barulho do mar não me deixa dormir
encosto a cabeça na areia suave
amanho almofada joelho justeza
e deixo-me ir)

às vezes tenho frio durante a noite
como se me destapassem me despissem
e dissessem para não dormir

acaricio a perna contra os lençóis de vento miudinho
(lentamente, não se o sujeite a si)
penso em palavras em sons de palavras agudas
vibrantes vitais

e tal sucedimento antigo e recente
que se impile, se arrole, se então
pois então

27.2.04



um insecto engavetado

Eu sou o insecto que estremece
na teia que teces como ninguém.
Sou eu que ansiosamente aguardo
a voracidade que me é merecida.
Nesta parte de mim que desconheces
teço as conjecturas várias que se me põem.
Daí que só o brilho intenso do teu olhar
afague este desorientado simulacro,
como se me percebesses...
Daí viver em constante fervilhar,
teorizando sobre os estímulos corporais
que em resposta à tua presença acontecem.
Manifestando obsessivamente inquietudes,
querendo perceber o que de mim percepcionas.
Sem ter tempo para ser simples.
Para te dar um beijo.
Gostando inteiramente de todos os teus pedaços...

23.2.04



da gaveta

há quem cante no meio da multidão
e quem no meio da multidão recuse
a ideia de multidão que acuse
a verdadeira solidão que ocorre

17.2.04



man in chair, lucien freud





isto na sequência volteante de mim destituído de sentido
sentado ou despido ou isto assim razante ou pois
vacas nem polícias não coiso e tal que é
que nem sei se durmo hoje e ponto

14.2.04



o amparo da maria joão absolutamente necessário e acertado revela-me a dimensão do que ocorre com toda a dificuldade, na minha vida, por estes dias...



um recadinho

este ano está-me difícil, não sei bem que conjugações aqui se justificam, mas este está a ser um ano muito último, de dores últimas, percebem?, o elevador ascende e a música termina, estão a ver?, o acidentado diz que faz que mas ao fim e ao que nada soçobra que é como quem diz que estou numa grande enrascada, palavra do caralças, sim, foi caralças aquilo que eu quis dizer

10.2.04



(ao menino sebastião)


MONTE DA UTA


eu nesta mesa de papéis dispersos e o vento lá fora e o monte grande quieto
eu atafulhado de perspectivas e o monte exclusivo, singular
eu confuso e o monte sem fusos, omnipresente
eu parado no movimento dos neurónios e o monte no pedestal autoritário
eu climatérico e o monte simplesmente
eu monte e o monte colérico quem pensas tu que és
e eu no meu lugar de novo
nesta mesa de papéis dispersos e o vento lá fora
e o monte agigantado e eu vocacionado
para monte nos papéis pelo menos desenhado

31.1.04



ARROZ DE TOMATE

nesse dia a noite viera mais cedo - na verdade, o seu particular adormecimento fizera-se pelas quatro da tarde, era dia, e com os dados assim lançados proponho um brinde à aldeia à casa amarela às ruas outonecidas que se lhe dirigem à satisfação iniciática ao pão com fiambre de vez em quando.

30.1.04



OPERETA AZUL JASMIM

esta semana fui à ópera ver os pianos debruçarem-se sobre mim. lá fora magrebiava-se com determinação e estilo depois vemos. ao entrar nos não referidos ainda confins de mim percebi a motivação que me sucedera. dos céus felizmente negros a noite disse-se fria e breve e mas também contudo. gostei do vinho.

25.1.04



MIKLÓS



fehér



"ESTÁ MUITO MAL"

decorre em mim a incerteza que
se prolonga demorada
e insustentável

não sei
choro

22.1.04

HOJE OU ATEMPADAMENTE


hoje voltaram a acontecer-me coisas muito interessantes, coisas que
não vou dissecar absolutamente, antes encostadamente: depois do chá.


***

o frio como um despojo
lento atravessa as tuas mãos
a tua pele os ossos das tuas
mãos lentamente quando
a noite se insinua.

falavas sozinho e baixinho para ouvires
perfeitamente os sons de todas
as coisas à tua volta.



18.1.04



HOMEM DE BIGODE, AO MUSEU DA IMAGEM, BRAGA





um tempo e um modo

Qual é o olhar com que procuramos verificar o peso das coisas?

As manhãs são lentas quando o homem transporta consigo o tempo e o propósito. Entre o asfalto e a terra molhada faz um compasso de espera e determina um arrepio. Aponta com a mais elaborada intuição o caminho das estrelas que deslizam pela lama das ruas e se acrescentam às telas e às objectivas. A poesia é o sopro que embala o mundo de figuras e de lugares que lhe ocupam a simplicidade.

Qual é a forma da parte no todo?

O dedo aponta a estrada envolta nas mais frondosas e inesperadas árvores e então a memória é um exercício. Fecha os olhos e depois abre os olhos e depois pensa. E depois projecta as imagens de um mundo que se lhe diz desordenado. Desata e organiza e baralha os impulsos que a cidade lhe propõe e então propaga-se nas cores que se acertam e se desleixam, consoante o sujeito e a forma as reclamem. Presta e dispõe-se ao negativo adequado enquanto as palavras lhe sugerem os caminhos do esplendor e do espanto. Os conceitos dançam e suplicam a nudez da atenção desmesurada – o homem prudente não tem lugar neste homem, a sua mansidão é o movimento que possibilita o reflexo que perdura.

Como se admite e se diz o real?

O enredo implica a cor das nuvens e das lombas e das palavras que se insinuam sempre. Os objectos brotam de um humor perturbado pelo ângulo que se dificulta para logo a seguir se permitir. Mas a ordem relaciona-se com os sentidos que se querem sempre sentidos e estimulados. E então os planos absolutamente verificados dão lugar aos lugares relativamente contrários. As ruas e as pessoas fundem-se e o fotógrafo admite um clique que logo aplique o momento ao filme. O tempo passa e o modo é este.

14.1.04



TXIM* TXIM*

bom ano, bom ano, será que me esqueci de dizer tem um bom ano ao lhe olhar os olhos como agora o faço, já lá vão uns oito segundos? e então pergunto-lhe já te deseje..ejesed et àj :ela.

as palavras escritas têm um dom circular, berlíndico, escreveria mais tarde sentado ao computador. seriam nessa altura umas quê? quatro e meia cinco da manhã. não se lembrava de mais nada.

12.1.04



(ai)

queria muito ter-te visto e abraçado muito e sem to dizer dizer-te com beijos boca dentro abraços corpo todo que espero que tenhas as paisagens lindas todas no olhar. linda é a palavra que podias ser tu se tivéssemos que ser palavras que nos sintetizassem ou então tudo e que quando voltares o faças e me visites ou então eu vou aí ver-te bem sei que te levo comigo para todo o lado e que portanto te amo acho eu senão vemo-nos à noite quando a memória se entretém a espreitar um sorriso de que gostámos.

não vi o meu mail a tempo e portanto não ouvi as palavras que me disseste ao ouvido, até já meu amor tem os cuidados contigo e leva sempre um beijo meu na algibeira e que o ministres consoante os ventos e as manhãs.

9.1.04



VENHO JÁ OU ENTÃO NÃO

bem disposto, a caminho do silêncio escandinavo do meu amigo feijó (no deslize).

7.1.04



DA BELISCADELA DELE



6.1.04



A FAMÍLIA FANECA

(entre erecções)
Ambiciono a textura escarlate que aveluda o tornozelo
e torno o zelo dificultado e premeio o texto que imputo ao dito
e aninho a curvatura e depois não choro.

(entre panelas)
Pretendo um pretexto que me queime as fanecas todas
enquanto a lágrima que me despe sempre toda
se seque toda toda.

(entre papéis)
Intento o desaire absoluto num luto de whisky e queijo
e pálpebras que me não remetam para combates
e lágrimas de que estou cansado.

3.1.04



HÁ FESTA NA FALPERRA

Era o dia da festa e o vento deitava-se como os seus olhos se riem. O dia começava e isso, por si só, era-lhe agradável. Mas o carro não estaria ainda com vontade de se mover. Fez-se assim à estrada, que é como quem diz que se deu à sorte. O acaso casava com a vontade não manifestada de se cumprir e isto de um gajo se cumprir tem que se lhe diga, que é como quem diz que demora horas. Aprontou-se então com o vagar pedreste que ganhara e entrou em casa. É de pé que lhe sucede fechar os olhos e sonhar com infantis e preenchidas viagens. As músicas e as mãos do seu pai e os olhos da sua mãe e as árvores e o sol e os homens. Inspirou fundo e não começou a dançar imediatamente. Sairia de casa já noite e já suficientemente lambido, que é como quem diz afagado. Ainda não sei como acaba esta história.



ATÉ LOGO

quem te não viu anda cego
quem te não amar não vive
e tens toda a razão zeca
toda a razão