18.1.04



HOMEM DE BIGODE, AO MUSEU DA IMAGEM, BRAGA





um tempo e um modo

Qual é o olhar com que procuramos verificar o peso das coisas?

As manhãs são lentas quando o homem transporta consigo o tempo e o propósito. Entre o asfalto e a terra molhada faz um compasso de espera e determina um arrepio. Aponta com a mais elaborada intuição o caminho das estrelas que deslizam pela lama das ruas e se acrescentam às telas e às objectivas. A poesia é o sopro que embala o mundo de figuras e de lugares que lhe ocupam a simplicidade.

Qual é a forma da parte no todo?

O dedo aponta a estrada envolta nas mais frondosas e inesperadas árvores e então a memória é um exercício. Fecha os olhos e depois abre os olhos e depois pensa. E depois projecta as imagens de um mundo que se lhe diz desordenado. Desata e organiza e baralha os impulsos que a cidade lhe propõe e então propaga-se nas cores que se acertam e se desleixam, consoante o sujeito e a forma as reclamem. Presta e dispõe-se ao negativo adequado enquanto as palavras lhe sugerem os caminhos do esplendor e do espanto. Os conceitos dançam e suplicam a nudez da atenção desmesurada – o homem prudente não tem lugar neste homem, a sua mansidão é o movimento que possibilita o reflexo que perdura.

Como se admite e se diz o real?

O enredo implica a cor das nuvens e das lombas e das palavras que se insinuam sempre. Os objectos brotam de um humor perturbado pelo ângulo que se dificulta para logo a seguir se permitir. Mas a ordem relaciona-se com os sentidos que se querem sempre sentidos e estimulados. E então os planos absolutamente verificados dão lugar aos lugares relativamente contrários. As ruas e as pessoas fundem-se e o fotógrafo admite um clique que logo aplique o momento ao filme. O tempo passa e o modo é este.

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