26.4.04



UM PEDREGULHO

da tarde morena em que quiseste voar
para verificar outras andanças
sobrou a etérea quimera de ti:
um silêncio meio picotado e afinal
descrente de correntes de ar
que se respiram pelo ocular lado
do entendimento.

que os lírios do campo frequentem
teus terrenos e te ensinem as
canções de amor!

20.4.04



quero escrever, só quero escrever

como há já muito me não acontecia: tudo arde!
primeiro vem a névoa que logo se adensa
depois a vertigem e um cansaço quase tiro
na nuca que é como quem refere a percepção
absoluta da vida a esvair-se, a puta
da vida a caminhar rasteira e comezinha..

caminhasse eu pelas ruas anoitecidas e inverificáveis,
torcesse eu as tripas e delas fizesse poesia e meia
horita me bastasse para a acidental ligeireza
ser vertical cumprimento de olhos que se olham há já muito
ah, se eu não aparecesse para jantar e logo partisse
e logo me encontrasse e reparasse que isto se dá e dá-se
para logo se não dar...

uns dias mais disto e invento o raio da invisibilidade!

17.4.04



um beijo muito grande para ti, joana. grande, grande. um beijo.



escrito há uma data não especificada de tempo

este bem podia ser um texto dedicado a ti, um conjunto
de palavras que te enaltecessem de tal forma que supusesses agora mesmo e sorrisses agora mesmo e esse sorriso se estendesse no tempo, pairasse à minha frente, imperturbável e apto.

a verdade é que não me lembro dos mecanismos que me facilitam perante os sorrisos ambíguos, que dão mas tiram, que são mas não.

é quando os nossos lábios se cruzam no nosso olhar que logo se potenciam os prolongamentos felizes e ternos e plenos; quando se apercebem, porém, anulam-se derradeiramente.. não conheço coisa mais triste.

14.4.04



E COISA E TAL

nightmares on wax à uma e meia da manhã. nos compassos de pausa musical manifestam-se galinha e cão. problemas com o sono, certamente. os meus são esses e outros. les uns et les outres. e coisa e tal.

voltas a acenar-me assim e desencadeio o processo finalíssimo: volteio derradeiro sobre teus braços de algodão e penas e um frémito e um aperto e um volteio mais que isto passa.

antes e depois disso há tudo o resto, curiosamente. ou não. não importa. o amigo do rex não se cala. julgo que fala com os antepassados. meio lobo, meio parvo.

4.4.04



jantamos?

queria dizer-te tudo nestas manhãs sem sono, amarrar-te as mãos e levar-te pelas ruas sem gente, trincar pão fresco e dizer-te tudo e então descobrir que afinal nunca saíramos da cama. esticar-me em ti, puxando-te lentamente. buscar-me na definitiva perfeição do teu sorriso. queria muito.