5.3.08



o ser, o parecer e o julgamento

julga-se muito facilmente: tu és isto, aquele é aquilo e o outro é aqueloutro. não há meios termos. arrumam-se assim as ideias, aglutinam-se assim energias, procura-se assim decifrar o mundo e as pessoas, acalma-se assim a capacidade de duvidar e de reflectir. e o pensamento e entendimento demorados, difíceis, não alinhados com agendas mediáticas ou políticas, não lineares? báh! não há tempo para isso.

4 comentários:

João Feijó disse...

Quando falas do médico vaidoso de Gaia, do “professor revoltado”, do candidato à Câmara de Lisboa que supostamente levou uma sova num debate na TV com o Carrilho, não estás a partir de um pressuposto que alguém é isto, outro aquilo e ainda outro aqueloutro? Mas que meios termos encontraste? De que forma aglutinaste as energias e procuraste decifrar o mundo e as pessoas? De que forma exercitaste a capacidade de (realmente) duvidar e reflectir? Mas afinal é possível não estar alinhado com uma agenda mediática e política? Não haverá precisamente aí uma forma de alinhamento (se queres que te diga muito em voga e banal, quem não clama para si essa virtude?).
Quando rejeitas as pré-noções, os preconceitos e julgamentos definitivos estabelecidos a priori, esqueces-te que eles constituem um conjunto de fontes de interpretação indispensáveis, pois também dão sentido aos fenómenos. O grande desafio da compreensão está precisamente na identificação do sentido subjectivamente visado pelo analista, nos valores que estão na origem dos pressupostos da análise, que dão forma à maneira de conhecer, de reflectir e problematizar. Não o reconhecer em nome de uma objectividade e de uma capacidade não alinhada de reflectir é esquecer a verdadeira amplitude da neutralidade axiológica. Desculpa, é cair no sociologismo. Se calhar devias ter "tempo para isso".

mds disse...

não tens que pedir desculpa, eminente sociólogo, e não, não me esqueço que "as pré-noções, os preconceitos e julgamentos definitivos estabelecidos a priori constituem um conjunto de fontes de interpretação indispensáveis, pois também dão sentido aos fenómenos". não os rejeito, não me deixo é aprisionar por eles. mas sou humano e não procuro disfarçar as minhas contradições. neutralidades, cepticismos? báh!

ps. os exemplos que acima citaste têm algo em comum: foram breves apontamentos sobre "episódios" televisivos. não sobre amigos.

mds disse...

e mais: o de Gaia é realmente médico. e o que mentiu é realmente "professor revoltado" - é assim que se autodenominam.

João Feijó disse...

um abraço!

PS. sociólogo era o Bourdieu. não me voltes a chamar isso.