31.1.04



ARROZ DE TOMATE

nesse dia a noite viera mais cedo - na verdade, o seu particular adormecimento fizera-se pelas quatro da tarde, era dia, e com os dados assim lançados proponho um brinde à aldeia à casa amarela às ruas outonecidas que se lhe dirigem à satisfação iniciática ao pão com fiambre de vez em quando.

30.1.04



OPERETA AZUL JASMIM

esta semana fui à ópera ver os pianos debruçarem-se sobre mim. lá fora magrebiava-se com determinação e estilo depois vemos. ao entrar nos não referidos ainda confins de mim percebi a motivação que me sucedera. dos céus felizmente negros a noite disse-se fria e breve e mas também contudo. gostei do vinho.

25.1.04



MIKLÓS



fehér



"ESTÁ MUITO MAL"

decorre em mim a incerteza que
se prolonga demorada
e insustentável

não sei
choro

22.1.04

HOJE OU ATEMPADAMENTE


hoje voltaram a acontecer-me coisas muito interessantes, coisas que
não vou dissecar absolutamente, antes encostadamente: depois do chá.


***

o frio como um despojo
lento atravessa as tuas mãos
a tua pele os ossos das tuas
mãos lentamente quando
a noite se insinua.

falavas sozinho e baixinho para ouvires
perfeitamente os sons de todas
as coisas à tua volta.



18.1.04



HOMEM DE BIGODE, AO MUSEU DA IMAGEM, BRAGA





um tempo e um modo

Qual é o olhar com que procuramos verificar o peso das coisas?

As manhãs são lentas quando o homem transporta consigo o tempo e o propósito. Entre o asfalto e a terra molhada faz um compasso de espera e determina um arrepio. Aponta com a mais elaborada intuição o caminho das estrelas que deslizam pela lama das ruas e se acrescentam às telas e às objectivas. A poesia é o sopro que embala o mundo de figuras e de lugares que lhe ocupam a simplicidade.

Qual é a forma da parte no todo?

O dedo aponta a estrada envolta nas mais frondosas e inesperadas árvores e então a memória é um exercício. Fecha os olhos e depois abre os olhos e depois pensa. E depois projecta as imagens de um mundo que se lhe diz desordenado. Desata e organiza e baralha os impulsos que a cidade lhe propõe e então propaga-se nas cores que se acertam e se desleixam, consoante o sujeito e a forma as reclamem. Presta e dispõe-se ao negativo adequado enquanto as palavras lhe sugerem os caminhos do esplendor e do espanto. Os conceitos dançam e suplicam a nudez da atenção desmesurada – o homem prudente não tem lugar neste homem, a sua mansidão é o movimento que possibilita o reflexo que perdura.

Como se admite e se diz o real?

O enredo implica a cor das nuvens e das lombas e das palavras que se insinuam sempre. Os objectos brotam de um humor perturbado pelo ângulo que se dificulta para logo a seguir se permitir. Mas a ordem relaciona-se com os sentidos que se querem sempre sentidos e estimulados. E então os planos absolutamente verificados dão lugar aos lugares relativamente contrários. As ruas e as pessoas fundem-se e o fotógrafo admite um clique que logo aplique o momento ao filme. O tempo passa e o modo é este.

14.1.04



TXIM* TXIM*

bom ano, bom ano, será que me esqueci de dizer tem um bom ano ao lhe olhar os olhos como agora o faço, já lá vão uns oito segundos? e então pergunto-lhe já te deseje..ejesed et àj :ela.

as palavras escritas têm um dom circular, berlíndico, escreveria mais tarde sentado ao computador. seriam nessa altura umas quê? quatro e meia cinco da manhã. não se lembrava de mais nada.

12.1.04



(ai)

queria muito ter-te visto e abraçado muito e sem to dizer dizer-te com beijos boca dentro abraços corpo todo que espero que tenhas as paisagens lindas todas no olhar. linda é a palavra que podias ser tu se tivéssemos que ser palavras que nos sintetizassem ou então tudo e que quando voltares o faças e me visites ou então eu vou aí ver-te bem sei que te levo comigo para todo o lado e que portanto te amo acho eu senão vemo-nos à noite quando a memória se entretém a espreitar um sorriso de que gostámos.

não vi o meu mail a tempo e portanto não ouvi as palavras que me disseste ao ouvido, até já meu amor tem os cuidados contigo e leva sempre um beijo meu na algibeira e que o ministres consoante os ventos e as manhãs.

9.1.04



VENHO JÁ OU ENTÃO NÃO

bem disposto, a caminho do silêncio escandinavo do meu amigo feijó (no deslize).

7.1.04



DA BELISCADELA DELE



6.1.04



A FAMÍLIA FANECA

(entre erecções)
Ambiciono a textura escarlate que aveluda o tornozelo
e torno o zelo dificultado e premeio o texto que imputo ao dito
e aninho a curvatura e depois não choro.

(entre panelas)
Pretendo um pretexto que me queime as fanecas todas
enquanto a lágrima que me despe sempre toda
se seque toda toda.

(entre papéis)
Intento o desaire absoluto num luto de whisky e queijo
e pálpebras que me não remetam para combates
e lágrimas de que estou cansado.

3.1.04



HÁ FESTA NA FALPERRA

Era o dia da festa e o vento deitava-se como os seus olhos se riem. O dia começava e isso, por si só, era-lhe agradável. Mas o carro não estaria ainda com vontade de se mover. Fez-se assim à estrada, que é como quem diz que se deu à sorte. O acaso casava com a vontade não manifestada de se cumprir e isto de um gajo se cumprir tem que se lhe diga, que é como quem diz que demora horas. Aprontou-se então com o vagar pedreste que ganhara e entrou em casa. É de pé que lhe sucede fechar os olhos e sonhar com infantis e preenchidas viagens. As músicas e as mãos do seu pai e os olhos da sua mãe e as árvores e o sol e os homens. Inspirou fundo e não começou a dançar imediatamente. Sairia de casa já noite e já suficientemente lambido, que é como quem diz afagado. Ainda não sei como acaba esta história.



ATÉ LOGO

quem te não viu anda cego
quem te não amar não vive
e tens toda a razão zeca
toda a razão