1.12.04
obrigado sampaio
isto não podia continuar assim, de facto. termos no governo quem não saiba governar, bem, isso não é propriamente uma grande novidade; termos em s. bento um indivíduo cuja única mais-valia consiste na sua pretensamente intocável inteligência emocional, um indivíduo cujas competências assentam na ideia que o próprio faz da extrema importância da sua imagem e do timbre da sua voz, um indivíduo que não serve para absolutamente mais nada que não seja apaparicar as publicações mais desinteressantes e com mais falta de nível, isto se descontarmos a sua grande habilidade, reconheça-se, para desbaratar as contas das infelizes instituições que o acolhem/escolhem, um indivíduo destes não merece muito mais que isto: adeus, seu bardamerdas, vai à tua vidinha e não voltes!
10.11.04
3.11.04
27.10.04
21.10.04
sim, estou a pensar em ti
quando os dias me chateavam os pés
eu movia-me nas pegajosas tardes da
caligrafia dos nossos beijos dúbios.
supunha-te quase sempre e dizia-te
amo-te salvo erro ou então bastava
olharmo-nos ligeiramente.
hoje despisto-me de cabeça
em todas as tuas luas,
soergo-me e lá vou eu.
27.9.04
22.9.04
28.7.04
um e meio ou menos (porque sim)
como se os dias de amor tivessem sido curtos
demasiado curtos os dias de amor como se
brócolos salteados em azeite e alho banidos
tivessem sido demasiado curtos os dias
um primeiro ciclo que se fecha nervoso miudinho
pela perna acima, um segundo que um terceiro
despacha um quartinho de vinho que isso passa por ali
e depois vira à esquerda
um pouco mais e nem sempre do mesmo, como se
detido como se atado e contudo feito como se faz
aos brócolos salteados ao arrozinho e tudo isso
um mês e meio disto e daquilo dá desta e daquela
agora é que me não safo ou me passo ou me brinco
de tanto e então canto como se os dias de amor
tivessem sido demasiado curtos os dias
23.7.04
15.7.04
meu amor não é tarde
meu amor não é tarde nunca para te dizer que as ruas
estão falecidas e as pessoas recolhidas do vento que sopra
das folhas caídas que assobiam músicas distantes
e frias e que eu não tenho sono não consigo
os regressos a casa fazem-se pelos caminhos dos passos
que ficaram por dar
engendra-se demoradamente um súbito recanto ao luar
onde duas pessoas se olham e beijam
são as noites que me recordam as tardes
que julgávamos sem fim as manhãs em que nos deitávamos
e nos deixávamos assim ficar um outro de nós
13.7.04
25.6.04
21.6.04
15.6.04
o sol d'o estrangeiro
disse que nem pensar numa coisa dessas e foi em frente. debaixo do sobreiro arrancou a camisa e as calças. deitou-se. quando acordou estava num quarto pouco iluminado. disse que nem pensar numa coisa dessas e foi embora. no balcão da tasca pediu vinho. bebeu vinho. quando parou disse o que disse mas ninguém o ouviu.
19.5.04
ao trigésimo desnorte far-te-ás ao vento
ao final do dia penso no final dos dias cansados
de mim e de todos, os dias levantados da sombra
que não sabemos determinar, os dias pintados
das cores que não temos nem somos. regresso
pelo caminho de um campo lento, medindo
os passos e as palavras e os pássaros
dizem-me então, muitas vezes, vai
lá embora daqui! fecho os olhos
nas passadeiras que atravesso,
digo que sim, vou, e depois
choro e depois rio e
depois não.
14.5.04
10.5.04
aos causídicos da lindeza
penso pensar dispersivamente ao ralhar substantivos
logo intervalados pelos dados assim lançados pelo sono
das vozes apressadas que buscam querenças
de súplicas entrelaçadas de hortênsias razoavelmente
polidas e desconhecem o imo inimitável das coisas
acontecidas ao ritmo do infecto de remansos desatino.
como quem não quer a coisa adoço o passo
que mais não posso e olho no traço de um vesgo braço
um derradeiro juízo e lembro-me bem, agora sim:
rua da grande liberdade, número plim.
26.4.04
UM PEDREGULHO
da tarde morena em que quiseste voar
para verificar outras andanças
sobrou a etérea quimera de ti:
um silêncio meio picotado e afinal
descrente de correntes de ar
que se respiram pelo ocular lado
do entendimento.
que os lírios do campo frequentem
teus terrenos e te ensinem as
canções de amor!
20.4.04
quero escrever, só quero escrever
como há já muito me não acontecia: tudo arde!
primeiro vem a névoa que logo se adensa
depois a vertigem e um cansaço quase tiro
na nuca que é como quem refere a percepção
absoluta da vida a esvair-se, a puta
da vida a caminhar rasteira e comezinha..
caminhasse eu pelas ruas anoitecidas e inverificáveis,
torcesse eu as tripas e delas fizesse poesia e meia
horita me bastasse para a acidental ligeireza
ser vertical cumprimento de olhos que se olham há já muito
ah, se eu não aparecesse para jantar e logo partisse
e logo me encontrasse e reparasse que isto se dá e dá-se
para logo se não dar...
uns dias mais disto e invento o raio da invisibilidade!
17.4.04
escrito há uma data não especificada de tempo
este bem podia ser um texto dedicado a ti, um conjunto
de palavras que te enaltecessem de tal forma que supusesses agora mesmo e sorrisses agora mesmo e esse sorriso se estendesse no tempo, pairasse à minha frente, imperturbável e apto.
a verdade é que não me lembro dos mecanismos que me facilitam perante os sorrisos ambíguos, que dão mas tiram, que são mas não.
é quando os nossos lábios se cruzam no nosso olhar que logo se potenciam os prolongamentos felizes e ternos e plenos; quando se apercebem, porém, anulam-se derradeiramente.. não conheço coisa mais triste.
14.4.04
E COISA E TAL
nightmares on wax à uma e meia da manhã. nos compassos de pausa musical manifestam-se galinha e cão. problemas com o sono, certamente. os meus são esses e outros. les uns et les outres. e coisa e tal.
voltas a acenar-me assim e desencadeio o processo finalíssimo: volteio derradeiro sobre teus braços de algodão e penas e um frémito e um aperto e um volteio mais que isto passa.
antes e depois disso há tudo o resto, curiosamente. ou não. não importa. o amigo do rex não se cala. julgo que fala com os antepassados. meio lobo, meio parvo.
4.4.04
17.3.04
CHOVE NA CIDADE DOS PINTORES
chove na cidade dos pintores que enlouquecem pelas ruas brandindo cálices desatinados e oblíquos. é já certo que o mar dista vários quilómetros de terra húmida, asfalto roto. longe da vista, longe do esquecimento: os pintores e os poetas precisam da água salgada a correr no sangue, as algas e os líquenes em dizeres absolutamente estudados, a fugir das memórias, a lembrar a chuva na cidade dos pintores que enlouquecem pelas ruas.
28.2.04
cem anos mais setenta e um anos, tanto
(quando o barulho do mar não me deixa dormir
encosto a cabeça na areia suave
amanho almofada joelho justeza
e deixo-me ir)
às vezes tenho frio durante a noite
como se me destapassem me despissem
e dissessem para não dormir
acaricio a perna contra os lençóis de vento miudinho
(lentamente, não se o sujeite a si)
penso em palavras em sons de palavras agudas
vibrantes vitais
e tal sucedimento antigo e recente
que se impile, se arrole, se então
pois então
27.2.04
um insecto engavetado
Eu sou o insecto que estremece
na teia que teces como ninguém.
Sou eu que ansiosamente aguardo
a voracidade que me é merecida.
Nesta parte de mim que desconheces
teço as conjecturas várias que se me põem.
Daí que só o brilho intenso do teu olhar
afague este desorientado simulacro,
como se me percebesses...
Daí viver em constante fervilhar,
teorizando sobre os estímulos corporais
que em resposta à tua presença acontecem.
Manifestando obsessivamente inquietudes,
querendo perceber o que de mim percepcionas.
Sem ter tempo para ser simples.
Para te dar um beijo.
Gostando inteiramente de todos os teus pedaços...
23.2.04
17.2.04
14.2.04
um recadinho
este ano está-me difícil, não sei bem que conjugações aqui se justificam, mas este está a ser um ano muito último, de dores últimas, percebem?, o elevador ascende e a música termina, estão a ver?, o acidentado diz que faz que mas ao fim e ao que nada soçobra que é como quem diz que estou numa grande enrascada, palavra do caralças, sim, foi caralças aquilo que eu quis dizer
10.2.04
(ao menino sebastião)
MONTE DA UTA
eu nesta mesa de papéis dispersos e o vento lá fora e o monte grande quieto
eu atafulhado de perspectivas e o monte exclusivo, singular
eu confuso e o monte sem fusos, omnipresente
eu parado no movimento dos neurónios e o monte no pedestal autoritário
eu climatérico e o monte simplesmente
eu monte e o monte colérico quem pensas tu que és
e eu no meu lugar de novo
nesta mesa de papéis dispersos e o vento lá fora
e o monte agigantado e eu vocacionado
para monte nos papéis pelo menos desenhado
31.1.04
ARROZ DE TOMATE
nesse dia a noite viera mais cedo - na verdade, o seu particular adormecimento fizera-se pelas quatro da tarde, era dia, e com os dados assim lançados proponho um brinde à aldeia à casa amarela às ruas outonecidas que se lhe dirigem à satisfação iniciática ao pão com fiambre de vez em quando.
30.1.04
OPERETA AZUL JASMIM
esta semana fui à ópera ver os pianos debruçarem-se sobre mim. lá fora magrebiava-se com determinação e estilo depois vemos. ao entrar nos não referidos ainda confins de mim percebi a motivação que me sucedera. dos céus felizmente negros a noite disse-se fria e breve e mas também contudo. gostei do vinho.
25.1.04
22.1.04
HOJE OU ATEMPADAMENTE
hoje voltaram a acontecer-me coisas muito interessantes, coisas que
não vou dissecar absolutamente, antes encostadamente: depois do chá.
***
o frio como um despojo
lento atravessa as tuas mãos
a tua pele os ossos das tuas
mãos lentamente quando
a noite se insinua.
falavas sozinho e baixinho para ouvires
perfeitamente os sons de todas
as coisas à tua volta.
18.1.04
HOMEM DE BIGODE, AO MUSEU DA IMAGEM, BRAGA

um tempo e um modo
Qual é o olhar com que procuramos verificar o peso das coisas?
As manhãs são lentas quando o homem transporta consigo o tempo e o propósito. Entre o asfalto e a terra molhada faz um compasso de espera e determina um arrepio. Aponta com a mais elaborada intuição o caminho das estrelas que deslizam pela lama das ruas e se acrescentam às telas e às objectivas. A poesia é o sopro que embala o mundo de figuras e de lugares que lhe ocupam a simplicidade.
Qual é a forma da parte no todo?
O dedo aponta a estrada envolta nas mais frondosas e inesperadas árvores e então a memória é um exercício. Fecha os olhos e depois abre os olhos e depois pensa. E depois projecta as imagens de um mundo que se lhe diz desordenado. Desata e organiza e baralha os impulsos que a cidade lhe propõe e então propaga-se nas cores que se acertam e se desleixam, consoante o sujeito e a forma as reclamem. Presta e dispõe-se ao negativo adequado enquanto as palavras lhe sugerem os caminhos do esplendor e do espanto. Os conceitos dançam e suplicam a nudez da atenção desmesurada – o homem prudente não tem lugar neste homem, a sua mansidão é o movimento que possibilita o reflexo que perdura.
Como se admite e se diz o real?
O enredo implica a cor das nuvens e das lombas e das palavras que se insinuam sempre. Os objectos brotam de um humor perturbado pelo ângulo que se dificulta para logo a seguir se permitir. Mas a ordem relaciona-se com os sentidos que se querem sempre sentidos e estimulados. E então os planos absolutamente verificados dão lugar aos lugares relativamente contrários. As ruas e as pessoas fundem-se e o fotógrafo admite um clique que logo aplique o momento ao filme. O tempo passa e o modo é este.
14.1.04
TXIM* TXIM*
bom ano, bom ano, será que me esqueci de dizer tem um bom ano ao lhe olhar os olhos como agora o faço, já lá vão uns oito segundos? e então pergunto-lhe já te deseje..ejesed et àj :ela.
as palavras escritas têm um dom circular, berlíndico, escreveria mais tarde sentado ao computador. seriam nessa altura umas quê? quatro e meia cinco da manhã. não se lembrava de mais nada.
12.1.04
(ai)
queria muito ter-te visto e abraçado muito e sem to dizer dizer-te com beijos boca dentro abraços corpo todo que espero que tenhas as paisagens lindas todas no olhar. linda é a palavra que podias ser tu se tivéssemos que ser palavras que nos sintetizassem ou então tudo e que quando voltares o faças e me visites ou então eu vou aí ver-te bem sei que te levo comigo para todo o lado e que portanto te amo acho eu senão vemo-nos à noite quando a memória se entretém a espreitar um sorriso de que gostámos.
não vi o meu mail a tempo e portanto não ouvi as palavras que me disseste ao ouvido, até já meu amor tem os cuidados contigo e leva sempre um beijo meu na algibeira e que o ministres consoante os ventos e as manhãs.
9.1.04
7.1.04
6.1.04
A FAMÍLIA FANECA
(entre erecções)
Ambiciono a textura escarlate que aveluda o tornozelo
e torno o zelo dificultado e premeio o texto que imputo ao dito
e aninho a curvatura e depois não choro.
(entre panelas)
Pretendo um pretexto que me queime as fanecas todas
enquanto a lágrima que me despe sempre toda
se seque toda toda.
(entre papéis)
Intento o desaire absoluto num luto de whisky e queijo
e pálpebras que me não remetam para combates
e lágrimas de que estou cansado.
3.1.04
HÁ FESTA NA FALPERRA
Era o dia da festa e o vento deitava-se como os seus olhos se riem. O dia começava e isso, por si só, era-lhe agradável. Mas o carro não estaria ainda com vontade de se mover. Fez-se assim à estrada, que é como quem diz que se deu à sorte. O acaso casava com a vontade não manifestada de se cumprir e isto de um gajo se cumprir tem que se lhe diga, que é como quem diz que demora horas. Aprontou-se então com o vagar pedreste que ganhara e entrou em casa. É de pé que lhe sucede fechar os olhos e sonhar com infantis e preenchidas viagens. As músicas e as mãos do seu pai e os olhos da sua mãe e as árvores e o sol e os homens. Inspirou fundo e não começou a dançar imediatamente. Sairia de casa já noite e já suficientemente lambido, que é como quem diz afagado. Ainda não sei como acaba esta história.
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